sábado, 7 de janeiro de 2012

Uma oportunidade imensa

A situação demográfica actual coloca grandes desafios à Europa e Portugal: A Europa é a região mais envelhecida do mundo e Portugal um dos países mais envelhecidos da Europa. Segundo o Índice de Envelhecimento das Nações Unidas (representa o nº de pessoas com mais de 60 anos por cada 100 pessoas entre os 0-14 anos) prevê-se que em 2050 as pessoas com mais de 60 anos sejam o dobro das crianças ou jovens entre os 0-14 anos.
E no entanto… Vivemos numa época que privilegia o “novo”, a energia e vitalidade da juventude acima de tudo. Uma época em que interiorizamos, desde muito cedo, estereótipos negativos associados ao envelhecimento. O preconceito contra as pessoas idosas é bem ilustrado na polémica instalada antes do lançamento do filme UP. Os investidores questionavam seriamente o êxito do filme e os produtos de marketing a ele associados, tendo havido mesmo uma corrida à venda das acções da Disney neste período. Os fabricantes de brinquedos não acreditavam que as crianças estivessem interessadas em brincar com um idoso de 78 anos…
Quando o filme foi lançado todos os receios se revelaram infundados. O êxito de bilheteira do UP é, portanto, um bom indicador de que as nossas sociedades estão abertas à mudança.

O Ano Europeu do Envelhecimento Activo representa um marco na aposta em políticas que promovam um envelhecimento mais saudável e produtivo. No entanto, este envelhecimento não deverá surgir como uma imposição, mas como uma opção, ou seja, as pessoas idosas só deverão desempenhar determinados papéis se assim o desejarem.

O esforço da U. E. é, sem dúvida, louvável, mas a grande mudança ideológica que se nos impõe é muito mais abrangente e passa por uma estratégia activa em termos educacionais, pela promoção de acções intergeracionais, pela consciencialização da nossa responsabilidade no combate a certas tendências enraizadas e na promoção de uma sociedade mais aberta e inclusiva.

Um exemplo na integração de pessoas idosas é o Japão (e reparem uma sociedade altamente industrializada e tecnologicamente avançada): Em 1989 foi criado o Gold Plan que visava desenvolver serviços e programas que garantissem a segurança e dignidade dos idosos. Além de apostar no desenvolvimento de respostas ao nível social e de saúde inclui também investimento elevado na investigação e na pesquisa da ciência do envelhecimento. Na agenda política dos programas de envelhecimento japoneses o objectivo que surge como fulcral é o da promoção do bem-estar e realização das pessoas idosas - enriquecer o ikigai, ou seja, o sentido e propósito de vida.

Talvez devamos ter estes programas como referência porque a nossa grande mudança deverá ter como alicerce a valorização dos mais velhos nas suas necessidades e aspirações.

Em vez de encararmos o envelhecimento como um problema deveremos perspectivar todos os aspectos positivos que se anunciam, entre eles a oportunidade única e imensa de vivenciarmos a partilha de experiências entre as diferentes gerações que se vão encontrar pela primeira vez na História.
Fonte: Discriminação da Terceira Idade, Sibila Marques

3 comentários:

  1. Olá Teresa. Ao ler este texto voltei atrás ao tempo da minha meninice na aldeia onde nasci. Os tempos eram difíceis, muito mais do que são os de hoje, apesar de todas as reclamações que fazemos.Havia muita fome, não havia apoios, mas havia muitas crianças em quase todas as famílias. Essas crianças tinham sempre algo para comer, pois as mães plantavam e criavam tudo aquilo que era indispensável para as refeições; algumas crianças, claro eram infelizes, mas a maioria não; tinham o suficiente e não lhes faltava o carinho. Hoje o desenvolvimento é outro, o conforto não falta e os apoios são muitos. Chegámos a um patamar alto e ninguém quer descer um degrauzinho sequer. Não se pode ter muitos filhos, porque a eles não podem faltar as roupas de marca, os telemóveis de última geração, os computadores e todos os brinquedos que aparecem no mercado; passou-se do 8 para o 800 e, apesar disso, não vejo crianças mais felizes do que aquelas que conheci na minha aldeia.E o resultado é este, uma população envelhecida e, como o dinheiro não chega para tudo, há que colocar os idoso em lares, pois são um estorvo e além disso há que trabalhar cada vez mais para se ter cada vez mais para os nossos excessos; são assim separados os mais velhos do convívio dos mais novos, prejudicando uns e outros, coisa que não acontecia quando eu era criança. A " malga da sopa" como se dizia, chegava para todos, pais, filhos e avós que nunca eram "expulsos" de casa. Hoje, infelizmente, muitas crianças nem conhecem os avós e essa experiência é uma lacuna na formação deles; nunca aprenderão a respeitar os idosos e a culpa não é deles; nunca viram os pais a tratarem dos avós e por isso difícilmente saberão como tratar dos seus pais quando a velhice chegar. Claro que não é nada fácil encarar a velhice. Quando olho para os meus pais e os comparo com o que eram há anos, fico triste, apesar de pedir à vida que me permita chegar aos 83 com a lucidez deles, principalmente com a da minha mãe que se recusa a ser velha e que continua com um espírito jovem e opimista.Estamos de facto numa época em que temos a oportunidade de vivenciarmos a partilha de experiências entre as diferentes gerações, mas para isso é preciso que mudemos a nossa mentalidade e que deixemos os nossos idosos em casa possibilitando-lhes a convivência com os netos; sei que muitas vezes a incapacidade deles nos obriga a colocá-los em lugares onde possam ter cuidados de saúde que não lhes poderíamos dar em casa, mas isso não é motivo para que os abandonemos e lhes tiremos o que acham o seu maior tesouro, a convivência com os filhos e os netos; isto é muitas vezes a causa de uma partida antecipada. Ainda bem que estamos no ano dedicado aos idosos, pois assim pode ser que acordemos e lhes demos a importância que tiveram e que continuam a ter na nossa sociedade; a eles tudo devemos e, se a vida o permitir, de certeza que também seremos idosos, portanto há que entender de uma vez por todos que o que a eles fizermos será o que nos farão um dia. Um beijinho, Teresa e parabéns pelo post.
    Emília

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  2. Que bom lê-la, Emília! Começar o ano com as suas enriquecedoras palavras é muito bom mesmo. Tenho andado a refletir nelas e quando as li pensei que realmente uma condição primeira seria a de deixar "os nossos idosos em casa possibilitando-lhes a convivência com os netos", mas depois pensei noutras alternativas de que a Suécia é exemplo: As residências para as pessoas idosas são construídas em espaços em que também um centro infantil e escolas ou universidades por perto. Os espaços de convívio são adaptados às necessidades dos diferentes grupos etários e convidam à sua utilização. Constroem-se assim redes intergeracionais e é promovida a convivência entre pessoas de diferentes idades. Tanta e tanta coisa que podemos fazer... Está mesmo na hora de começarmos a pensar a sério em tudo isto e actuar. O futuro de todos nós merece, não é?
    Um abraço grande

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  3. Claro que essa alternativa da Suécia é excelente, Teresa e haverá outras também boas; o que importa é deixarmos de " despejar " os nossos idosos em lugares onde se sentem como " lixo" e onde passam os seus dias convencidos de que não tem mais utilidade nenhuma, só à espera que a morte chegue. Isto sim, tem de mudar! Um beijinho, amiga e uma boa semana

    Emília

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