segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O invisível – caminho da essência



“O essencial é invisível para os olhos”


Aceder a uma nova forma de riqueza, aquela de saber dar lugar ao essencial, é a nossa proposta para o novo ano que começa. Já aqui a tínhamos proposto, mas hoje reforçamos a necessidade de um trabalho interior de reconhecimento e vigilância para o que realmente importa:
  • Aprender a distinguir desejos de necessidades profundas.
  • Preferir a autenticidade à quantidade.
  • Privilegiar o espaço e o silêncio.
  • Possuir sem ser possuído.
  • Permanecer o mais livre possível.
Deixar-se surpreender pela beleza da essência, libertar-se de velhos hábitos e acomodações, não perder tempo com o supérfluo, olhar com o coração. 
E… lembrar-se, a cada dia, que em lugar de esperar que 2013 lhe traga algo de novo, está em si a possibilidade de fazer algo para que ele seja novo (não deixe de ler este texto).  
“O que em si tem que nascer, renascer, ser recriado para que o ano tenha cheiro e gosto de manhã e não sabor murchado e dormido de anteontem?” 
Que 2013 tenha o cheiro e gosto da manhã mais luminosa é o que vos desejamos!
 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

BOAS FESTAS


"O Natal não é ornamento: é fermento
Dentro de nós recria, amplia, expande

O Natal não se confunde com o tráfico sonolento dos símbolos
nem se deixa aprisionar ao consumismo sonoro de ocasião
A simplicidade que nos propõe
não é o simplismo ágil das frases-feitas
Os gestos que melhor o desenham
não são os da coreografia previsível das convenções

O Natal não é ornamento: é movimento
Teremos sempre de caminhar para o encontrar!
Entre a noite e o dia
Entre a tarefa e o dom
Entre o nosso conhecimento e o nosso desejo
Entre a palavra e o silêncio que buscamos
Uma estrela nos guiará"
 José Tolentino Mendonça

 imagem tirada daqui (snpcultura)

Vivemos o tempo do Advento, um tempo de fazer silêncio em nós, um tempo de dar tempo àquilo que, por vezes, anda esquecido: Contemplar, acender uma vela, dizer o quanto gostamos dos outros, repartir a vida. Um tempo, como nos diz José Tolentino Mendonça, “de abrir janelas na noite do sofrimento, da solidão, das dificuldades e sentir-se prometido às estrelas, não ao escuro”. Um tempo de se perguntar: "há quantos anos, há quantos longos meses desisti de renascer?"

Neste Advento que vivemos, e nos convida a uma alegre vigilância, preparemo-nos para acolher o Natal numa grande festa plena de sentido. Sim, porque as festas são fundamentais para quem quer viver a vida num enredo comum, em permanente renovação e partilha. São ainda mais importantes para quem sente as dificuldades da vida, para quem tem falta de esperança, de alegria, de acompanhamento. As festas contrastam com o dia-a-dia, tantas vezes cinzento, permanecendo marcos no tempo que nos reanimam e revigoram.

E, sim, troquemos prendas também: Faz todo o sentido o gesto de trocar prendas que nos liguem às pessoas que amamos, ou de quem é esperado que sejamos amigos. “O gesto de descobrir o que será a prenda, o que fazer ou comprar, implica que me interrogue sobre mim, sobre o outro e seus gostos e necessidades. É um desafio ao encontro, à compreensão, à proximidade.” Mas, sobretudo, vivamos este Natal como o fermento da mudança que almejamos, da coragem de cada renascer, do verdadeiro Encontro.

A todos os que por aqui passam desejamos uma imensa festa plena de sentido que vos recrie, amplie e expanda. Desejamos, enfim, que haja Natal em cada dia das vossas vidas.
BOAS FESTAS!

 imagem da Campanha "Um aluno, um pacote de leite, uma mensagem de Natal" dinamizada pelo nosso Projecto.

 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Da cozinha para a mesa em companhia



“A cozinha representa a construção da autonomia do homem face à natureza, a sua capacidade de se diferenciar e de ser. (…)
A cozinha é, por excelência, o lugar da transformação. É o lugar da instabilidade, da procura, da incerteza, das misturas inesperadas, das soluções imprevistas, das receitas adaptadas. A cozinha é o lugar da criatividade e da recomposição. É a metáfora da própria existência humana, pois distingue o homem, precisamente, esta capacidade de viver na transformação, numa mobilidade que não é só geográfica.”
José Tolentino Mendonça, Nenhum Caminho será Longo

 imagem tirada daqui
Podemos dizer que a história do homem se confunde com a história da alimentação. O domínio do fogo permitiu a passagem do “cru ao cozido” interpretada por Lévi-Strauss como o processo de passagem do homem da condição biológica para a social. Ou seja, a cozinha vai diferenciar o comportamento humano não só na sua vertente biológica, mas na sua vertente social pelo facto de fomentar as interações sociais à roda de uma mesa: Comer e beber em companhia reforçam relações de proximidade. À mesa temos um espaço/tempo em que, como nos diz José Tolentino Mendonça, “o contar se realiza ao contar-se”. Um espaço/tempo de convivialidade, de encontro, de reciprocidade. Ao partilhar a comida compartilhamos uma experiência dos sentidos. E, sobretudo, alimentamo-nos mutuamente. Porque se a cozinha é o lugar privilegiado da transformação é, também, o lugar privilegiado da dádiva. Dádiva que partilhamos à mesa numa plena reciprocidade de corpo e alma (a observação científica mostra que as refeições em comum são, em geral, consumidas mais lentamente e a quantidade total de calorias ingeridas é inferior relativamente às ingeridas em refeições solitárias, como se a convivialidade tivesse já saciado o nosso apetite e alimentado as nossas células).
Nestes tempos que habitamos e, em particular, na época festiva que se aproxima, permitamo-nos viver plenamente esta comunhão que só as refeições em companhia nos proporcionam. Permitamo-nos, também, uma reflexão sobre a capacidade do homem viver na transformação, sobre a capacidade da descoberta das soluções imprevistas, da criatividade e da recomposição a que a cozinha nos remete.