imagem retirada da internet
Arrumando revistas e papéis deparo-me com dois artigos de David Servan-Schreiber cujo aspecto essencial comum é o de mostrar o poder do afecto, esse poder que não cura as feridas físicas, mas as da alma, da solidão, do medo e, até mesmo, da dor.
A partir de experiências realizadas na Universidade de Wisconsin (EUA), Richard Davidson avaliou (através de ressonâncias magnéticas) o medo e a dor em mulheres submetidas a pequenos choques eléctricos. Se fossem deixadas sós durante a experiência tinham medo e sofriam fisicamente. Se alguém do laboratório que nunca tivessem visto antes lhes desse a mão, sentiam menos ansiedade, mas a dor mantinha-se. No entanto, se fosse o seu marido a segurar-lhes a mão, tudo se acalmava no seu cérebro. Existe algo de muito forte no contacto físico, algo tão forte como um medicamento que possa proporcionar a acalmia da dor e do medo. E quanto mais forte for a relação, maior a eficácia do “medicamento”.
Este amor que temos àqueles que nos são próximos é, por vezes, posto a duras provas. Mas é, justamente, nessas alturas que ele é capaz de mostrar o seu poder transformador. David Servan-Schreiber conta-nos a história de uma mulher cujo filho depois de alguns episódios psicóticos que tinham tido como desenlace um internamento que só o levara à cólera contra a mãe e ao abandono da casa materna. Esta mulher ficara sem qualquer notícia do filho a não ser de alguns amigos de infância que ele, por vezes, contactava. Todas as manhãs acordava angustiada: “Qual seria o futuro do seu filho?” Ao fim de seis meses de angústia conseguiu saber onde ele estava e dizer-lhe que o esperaria, numa localidade próxima, no dia do seu aniversário. O dia chegou e ela esperou várias horas, tentando descortinar no meio de todas as silhuetas que se lhe assemelhavam, uma que pudesse ser a dele. Nada. Até ao momento em que, ao voltar-se, o viu aparecer no seu campo de visão. Muito magro e sujo, passa por ela, de olhos baixos, dizendo como se fosse para ele próprio: “Porque é que estás aqui? Detesto-te, nunca mais te quero ver.” Profundamente abalada a mãe só teve tempo de lhe gritar, antes de ele desaparecer, “Bom aniversário!”, pensando que nunca mais o veria.
Mas… Ele voltou e ao fim de quatro anos acabou por aceitar o tratamento de que necessitava e lhe possibilitou a reconstrução da sua vida. Neste período foram muitas as conversas que teve com a sua mãe e delas ficam estas palavras: “Quando o meu espírito estava agitado, a única coisa que tinha de sólido na minha vida era saber que fosse o que fosse que acontecesse, tu estarias lá para mim.” E ela tinha estado, mesmo na mais profunda impotência, tinha dado o sinal do amor que nos resta, por vezes, dar. Aquele que diz: Estou aqui. Estou contigo, sempre.
Teresa
Como resposta a este belo texto, vou-te contar uma experiência pessoal que confirma a importância de um simples gesto a significar " Estou aqui. Estou contigo. " A minha sogra faleceu aos 89 anos; foi sempre uma mulher muito saudável de tal modo que nunca tinha sequer ido a médicos ou apanhado uma simples injecção. Tratava-se sempre com os seus chazinhos. Claro, um dia a hora dela chegou; ficou acamada, quase como um vegetal durante talvez 2 meses;não ouvia, não falava e não sabiamos até que ponto ouvia ou não; estava sempre com soro, pois era difícil alimentá-la; tinha que estar acompanhada dia e noite e filhos e noras revezavam-se. Acontecia o seguinte, principalmente durante a noite; ela, começava com a mão que ainda tinha alguma mobilidade a "passea-la " por cima das cobertas até encontrar alguma coisa e algumas vezes arrancou o tubo do soro o que para nós constituiu um grande problema; uma noite dessas em que estava lá eu, resolvi pegar a mão dela e mantive-a agarrada à minha durante algum tempo; ela sossegou e depois eu, lentamente, fui retirando a minha e por incrivel que pareça nunca mais ela tentou agarrar fosse o que fosse; comuniquei isso às minhas cunhadas que começaram a fazer o mesmo; chegámos
ResponderExcluirà conclusão que o que ela queria era saber se estava alguém junto dela; queria sentir que não estava só; o resto da noite passava-a calma, mas no início ela sempre " passeava " a mão até que alguém lhe mostrasse: " estou aqui. estou contigo ".
Ela teve 8 filhos e foi uma mãe muito dedicada, cuidando de tantos com muito trabalho, dificuldades e carinho. Felizmente que souberam retribuir-lhe tudo isso, fazendo o que ela sempre quis: ficar na casa dela ( nestes caso,claro, numa filha) e tendo a colaboração de todos para que não tivesse precisado de ir para onde ela nunca quis, hospital ou asilo ( sempre pedia que não a levassem para um desses lugares). Morreu no dia do aniversário do meu marido, calma e serena, tendo, por acaso ( ou não) junto dela um dos netos que ela ajudou a criar.
Sabe Teresa, quando há boa vontade e colaboração de todos os familiares consegue-se mitigar o sofrimento daqueles que estão prestes a partir. Um beijinho, amiga e parabéns pelo post. Desejo que tenha uns dias cheios de momentos felizes e de que encontre sempre à sua volta pessoas com essência.
Emília
Emília, minha amiga, há alturas em que não consigo que as palavras falem e esta é uma delas. Tenho-a lido e relido e o que o meu coração sente, quando o faço, não deixa lugar para a palavra. Muito obrigada, sempre!
ExcluirLindo teresa... como lindo o que a Emília escreveu. Comoveu-me tanto...Preciso tanto destas palavras, deste mundo em que acredito mas de que me sinto momentaneamente afastada, como se isso fosse possível...
ResponderExcluirobrigada. Os teus postes são sempre momentos importantes de reflexão e de crescimento interior.
Beijinho
Isabel
Lindo mesmo o que escreveu a Emília e como é bom sentir esta partilha, esta vossa presença num só coração. Grata, Isabel, por ESTARES aí, aqui, connosco.
ExcluirPosso não comentar muitas vezes, mas estou aqui, para o que der e vier, como agradecimento pela partilha do optimismo e inspiração que aqui são tão bem servidos :-D
ResponderExcluirObrigada por estarem também aqui, especialmente tu com quem "falo" mais Teresa! :-)
Beijos grandes,
Sónia
Já somos duas, Sónia: Também não sou muito de comentar e demoro demasiado a responder, mas acompanho-te sempre.Muito obrigada pela boa energia que nos transmites e nos fortalece. Grande abraço
ExcluirMuito obrigada eu Teresa, quer pelo teu apoio directo quando comentas lá no meu cantinho, quer pelo teu apoio indirecto quando me inspiras!
ExcluirSe há uma razão para eu agora "pensar mais optimista", são vocês, especialmente tu! :-)
Muito obrigada e continua(em) o fantástico trabalho, que o mundo bem precisa!!! :-)
Emília, achei linda a tua história, e tão mais bela por ser verdadeira!
ResponderExcluirQuem dera todos fossemos assim acarinhados pelos nossos entes mais queridos nas alturas de maior necessidade!!!
Muito obrigada, Sonia. É isso que sempre peço à vida...que os meus me saibam retribuir todo o carinho que lhes dediquei, quando a minha caminhada estiver a chegar ao fim. Espero também que esta minha experiência me tenha dado a sabedoria necessária para dar aos meus pais todo esse amor na hora em que eles precisarem, como souberam fazer filhos e noras da minha sogra. Um beijinho, amiga e fica bem!
ExcluirEmília
Beijo grande e obrigada por me ensinares a responder correctamente aos comentários! O exemplo é tudo! :-)
ExcluirCheguei até aqui... muito bom... fiquei!
ResponderExcluirCostumo dizer que a melhor coisa do mundo é gente, mesmo que muitos tentem mostrar o contrário nesse mundo caótico e difícil. Tudo o que a sociedade não faz, que o dinheiro não faz, o amor faz. O toque do amor liberta e perdoa, traz a cura e a restauração.
Belo texto... Belo conteúdo.
Abraços
Muito obrigada Cleusa. Um abraço!
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