sábado, 11 de junho de 2011

Porque corremos?



Vivemos numa sociedade que parece medir o valor de cada um de acordo com a sua produtividade/acumulação de actividades. Medimos, em geral, o nosso valor tendo como padrão o nosso grupo de referência: Se tem uma casa no campo, um todo o terreno, segue uma dieta biológica, faz yoga, fala inglês fluentemente, vai de férias para um país exótico, actividades extra-curriculares dos filhos… Devemos estar ao seu nível e para isso há que correr.

David Servan-Schreiber relata-nos a sua estupefacção ao ouvir as palavras de Kalson, um órfão tibetano, que conhecera em Dharamasala, no norte da Índia, num dos campos que acolhiam os refugiados tibetanos. Kalson não sabia o que era o stress! Como era possível?

Na altura em que o conheceu, já Kalson era director de uma escola de milhares de crianças, entre as quais centenas de órfãos como ele. Abandonara a sua terra natal quando tinha oito anos escapando aos guardas da fronteira chinesa. Graças a uma bolsa internacional tinha passado dois anos nos EUA a frequentar um curso de Ciências da Educação. Contava Kalson: “Vivi com estudantes americanos. Fizéssemos o que fizéssemos, nunca era suficiente. Se estávamos no supermercado tínhamos que andar depressa para regressarmos à residência e fazermos os deveres. Se estávamos a trabalhar tínhamos que acabar o mais rapidamente possível porque viriam uns amigos ver um programa de TV. Se estávamos a ver o programa, os locutores diziam que o verdadeiro evento seria no próximo e que deveríamos começar a preparar-nos para o que viria…”

No campo de refugiados, Kalson conhecera a falta do bem mais essencial que é a água, mas não conhecera o stress. Não precisara correr para que o reconhecessem, pois sabia que o valorizavam pelo que era, sem ter de fazer nada mais. Talvez devamos parar e reflectir até que ponto aquilo que fazemos é, ou não, para nos sentirmos reconhecidos, valorizados. Lembremo-nos que o único juízo que importa quando chegarmos ao fim dos nossos dias é: Soubemos amar e ser amados? Soubemos estar de corpo e alma em cada momento, ou a pensar no que íamos fazer no momento seguinte? 

Fonte: David Servan-Schreiber, "O preço do reconhecimento"

4 comentários:

  1. É tão difícil fugir a esta pressão, mesmo que já consigamos ter consciência dela e achemos que queremos outro caminho, outra via de desenvolvimento e de realização pessoal e espiritual...
    ...a pressão acaba por ser demasiada e por vezes o nosso sentimento acaba por ser de uma certa divisão:
    - Ou nos mantemos integrados, parceiros e colectivos... mas não conseguimos deixar de correr com o resto da sociedade que inexplicavelmente, mesmo apercebendo-se do erro, continua a fazer pressão nesse sentido...
    - Ou nos isolamos um pouco mais e mesmo que queiramos exercer a nossa cidadania de forma produtiva, corremos o risco de não sermos aceites, ou ter o reconhecimento que permita que a nossa voz faça sentido e tenha valor na mudança que preconizamos.

    Será assim, ou ambas as escolhas são extremistas?

    Será que na segunda, não podemos com jeito e TEMPO, encontrar a forma de ajudar a fazer ver o que é mais saudável, produtivo e verdadeiro e conseguirmos UM DIA fazer eco pelo nosso exemplo? Ou pelo exemplo de muitos que já querem aderir a esta forma de estar na vida, mais reflexiva, mais ponderada, mais inteira e mais presente?
    Queria saber tanta coisa!
    Queria fazer da forma mais adequada também...
    ...mas continuo à procura do equilíbrio e da fórmula adequada... se ela existe!
    Obrigada mais uma vez por "voltarem".
    É sempre tão bom tê-las por aqui!!!!!
    Abraço forte
    Isabel

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  2. ... e esqueci de agradecer o vídeo... um exemplo vivo que vale a pena ouvir...
    Obrigada!
    Isabel

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  3. Isabel
    Tantas questões que também se me colocam e às quais não sei responder...
    É muito difícil, sim, fugir a esta pressão: Este mundo não é para "lentos" :) Mas creio que é possível repensar as nossas proridades e desacelerar. Parar um pouco e ver o quanto estamos a passar pela vida demasiado depressa: Para quê?
    Como diz Jacques Castermane: "Nascemos para correr? Para nos levantarmos rapidamente, tomar o banho, o pequeno-almoço rapidamente, partir rapidamente para o trabalho? Para chegar rapidamente ao cemitério?"
    Quanto ao isolamento eventual que possa decorrer de enfrentar esta pressão acho que não será maior do que aquele que a própria rapidez nos cria: Esta ânsia de velocidade acaba por desfazer muitos laços e isolar-nos, pois ficamos sem tempo para o que verdadeiramente importa. E são essas prioridades que devemos repensar. E tentar também (como nos fala o vídeo) perspectivar o tempo de uma forma menos ocidental: Um movimento cíclico e não linear, a esvair-se.
    É possível o equilíbrio, Isabel e havemos de o conseguir. Um abraço
    Teresa

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  4. ...obrigada, minha querida. Havemos de conseguir! Porque não?
    Abraço bem forte e bem presente... e eterno no gesto e no sentimento.
    Sempre,
    Isabel

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