“Qual é o sentido da vida? O que nos faz correr? São perguntas que me ocorrem com frequência. E acredito que sejam perguntas que todos se colocam, pelo menos uma vez na vida. Eu, ao tentar dar respostas, fui percebendo que o sentido da vida é tão simples e ao mesmo tempo exigente. Mas também percebo que só essa exigência a torna tão bela. Percebi que respostas estruturadas e filosoficamente fundamentadas não me satisfaziam. Descobri que as minhas opções diárias, os meus gestos e os meus compromissos eram a resposta. Fui revelando a mim mesma que a felicidade estava nos momentos em que genuinamente ia ao encontro dos outros e simplesmente estava, ficava, só ficava!”
O voluntariado é, em geral, uma experiência transformadora. Dar o melhor de nós e do nosso tempo a quem precisa, acaba por nos revelar que recebemos muito mais do que aquilo que oferecemos. No entanto, devemos consciencializar-nos que uma das condições para o voluntariado é o compromisso real. Outra condição será a de não criar demasiadas expectativas – aquilo que podemos fazer nem sempre corresponde ao que almejamos (devemos ter sempre presente que não somos os “salvadores” do mundo). Uma terceira condição será a de que a nossa adesão a um projecto de voluntariado não seja motivada por um impulso inconsequente, fruto de um desejo de compensação das nossas carências.
Especialistas em voluntariado constataram que muitas pessoas em períodos difíceis da sua vida profissional ou familiar, procuram um sentido mais gratificante para a sua existência, começando a dedicar-se a projectos de voluntariado. Começam entusiasmadas, mas depois… deixam de aparecer de um dia para o outro. Ora, devemos estar conscientes do compromisso que assumimos e respeitá-lo. É importante também escolher um projecto com que nos identifiquemos. Desde “depositar” parte do nosso tempo no Banco do tempo, apoiar os sem-abrigo ou as crianças de rua, integrar movimentos para erradicar a pobreza ou reciclar o lixo, partir em missões solidárias no exterior, ou aderir ao “voluntarismo” (uma associação entre turismo e voluntariado que une a ajuda num projecto comunitário a uma viagem com destino exótico), o leque de escolhas é muito variado.
Mesmo que não nos associemos a um projecto de voluntariado, podemos dar o nosso apoio, a nossa presença, o nosso afecto, a nossa compreensão. Como nos diz Thich Nhat Hanh “o presente, mais precioso, que podemos oferecer, àqueles que amamos, é a nossa energia de compreensão e amor. Aquilo que os outros mais precisam é da nossa compreensão, amor e olhar profundo – não como ideias, mas enquanto realidade viva.”
Teresa Ferreira
Coincidencias estas de ler este post, no final de uma semana em que, sem saber que este é o ano internacional do voluntariado, me senti preenchida em grande parte pelo seu sentido... sentido, emoção... sentido, direcção...
ResponderExcluire estava precisamente a pensar elaborar, após alguma reflexão, um post no meu blog sobre voluntariado, a propósito de uma aluna de enfermagem em estágio, no Centro de saúde onde trabalho.
Tem sido tão forte a sua presença que lhe pedi para escrever sobre ela e a missão de onde provém e para onde vai retornar dentro de pouco mais de um mês, já formada... e pronta a dar tudo o que pode e sabe, pela população profundamente carente com que, e para quem, pretende trabalhar.
"Trabalhar" pode ser uma forma de voluntariado? Era uma das questões que me propunha reflectir...
Espero ter tempo e capacidade.
É que afinal, este é o seu sentido, a sua direcção... que faz de forma voluntária e nobre e com a qual temos muito para aprender!
Obrigada ao optimismo em construção por falar deste tema tão importante para reflectir.
Abraço, cheio de carinho e pedindo desculpa por estar ainda pouco capaz de expressar com clareza o que sinto... é que foi uma semana de turbilhão!
Isabel
Fiquei muito contente que tivesse gostado do texto que lhe indiquei. Já estive inscrita para fazer voluntariado; fui à entrevista e dispus-me a desempenhar diversas actividades no hospital aqui da minha cidade; demoraram muito tempo a chamarem-me e desisti. Não foi pela demora, mas sim porque senti que não estava preparada.Como temos vindo a falar, nada nas nossas vidas deve ser desperdiçado, nem coisas materiais nem afectivas. O que nos sobra deve ser doado aos outros; deve ser doado o tempo que temos a mais, devem ser distribuidos os sorriso que abundam em nosso rosto, a alegria que transborda dos nossos corações; também o optimismo que rege o nosso dia a dia deve ser usado em prol de quem dele está a necessitar; para ser sincera há uns dois anos que, desse material afectivo, o único que tenho a mais é tempo.Penso que ninguém pode dar aquilo que não tem e por isso, ao mesmo tempo que penso com afinco em exercer voluntariado, alguma coisa me diz para esperar mais um pouco. Apesar de tudo tenho Esperanças que isto passe e que eu possa finalmente fazer uma coisa que me preencherá e para a qual eu sinto ter capacidades. Tenho tempo, mas ainda preciso de tempo; o tempo para doar aos outros sobra-me mas para mim mesma não; preciso de mais Tempo. A minha filha inscreveu-se em vários lugares;Já obteve algumas respostas; tem agora de indicar quais as disponibilidades dela.Vamos ver se consegue!
ResponderExcluirOs barcos não podem ficar no porto...têm que se lançar ao mar; no entanto, às vezes é melhor ficarem à espera de um Tempo melhor. O meu barco vai ficar...precisa de tempo para se reforçar...precisa de tempo para se lançar. Um beijinho e Um bom fim de semana.
Emília
Isabel
ResponderExcluirFiquei contente por, mais uma vez, ir ao teu encontro. Como nos diz Dihego Pansini "no dicionário Aurélio, o significado da palavra voluntário é aquele “que age espontaneamente; derivado da vontade própria, em que não há coação”. Sobre a palavra voluntariado, num breve levantamento na internet pode-se encontrar a seguinte definição: “trabalho voluntário é toda atividade desempenhada no uso e gozo da autonomia do prestador do serviço ou trabalho, sem recebimento de qualquer contraprestação que importe em remuneração ou auferimento de lucro”. Se continuarmos a investigação a respeito deste tema, muitas outras definições podem surgir. Contudo, a última definição parece estar bem próxima daquilo que está disseminado na cabeça das pessoas atualmente."
Entendo o voluntariado como um dar-se de alma e coração sem uma contrapartida monetária. Essa dádiva, seja em casa, num grupo de amigos, no trabalho,ou numa instituição é, para mim, voluntariado. E se há pessoa que pode falar deste dar-se no seu trabalho, serás tu. Aguardo com curiosidade o teu post, a tua reflexão. Um abraço
Teresa
Emília
ResponderExcluirComo sempre diz uma grande amiga minha (http://treschavenasdecha.blogs.sapo.pt/97068.html) "a caridade começa em casa". E primeiro, diria eu, começa connosco próprios. Dedicar-nos o tempo que a amizade connosco próprios exige. Porque a amizade é exigente e nós devemos ser os nossos maiores amigos. Pois, como bem diz a Emília,"ninguém pode dar aquilo que não tem".
Além do mais, como referi no texto acima, não é de todo imprescindível que nos associemos a um projecto de voluntariado, pois podemos dar o nosso apoio, a nossa presença, o nosso afecto, a nossa compreensão àqueles que amamos (alargando progressivamente esse amor a todos aqueles que não são próximos. "Aquilo que os outros mais precisam é da nossa compreensão, amor e olhar profundo – não como ideias, mas enquanto realidade viva.” E esse amor tenho a certeza que é a sua realidade, amiga Emília. O tempo chegará em que o seu barco se lançará para mares mais longínquos. Um abraço
Teresa