"Sabes, disse-me um velho amigo congolês, na nossa terra para passarmos de uma idade para outra temos de fazer um exame. (...)
Não é um desses exames que vocês fazem nas universidades, em que custe o que custar, à hora estipulada, num feixe de nervos, têm de desbobinar tudo o que aprenderam à pressão, nã! nada disso: É um exame completamete diferente. Queres um exemplo? Quantos anos tens? Então, para entrares no grupo dos trinta e oito anos terias de dar provas de que as plantas se desenvolvem sob os teus cuidados, e que tudo o que for plantado por ti germina. Se, com a tua idade, o reino vegetal reage mal à tua presença é porque existe algum bloqueio em ti, algo que ficou atrofiado e que faz de ti uma ameaça para a comunidade. Seria evidente que não terias tomado bem conta do teu corpo e da tua alma; impunha-se proceder à tua recuperação. (...)
E a ti, pergunto-lhe, que prova é que te espera?
- Aos cinquenta e dois anos, são-me concedidos três dias e três noites para ajudar uma família devastada pela morte de um ente querido, a superar o seu desespero e a transformá-lo em força viva. Se conseguir, serei admitido entre os meus.
E acrescenta, acompanhando as palavras de gestos largos das suas esguias mãos negras:
Deste modo a nossa responsabilidade perante a criação aumenta com o passar dos anos, como os circulos que se formam quando atiramos uma pedra num lago e que vão aumentando em direcção à margem."
C. Singer, As idades da vida
Penso que nós somos submetidos a essa prova todos os dias: Logo que acordamos começamos a ser postos à prova e, quanto maior é a idade, mais difícil é o exame. Não é à toa que se diz que o exemplo vem de cima; somos nós os responsáveis pelos homens que teremos amanhã, pois é em nós que as crianças e jovens se reveem: são os nossos valores que os nossos filhos vão carregar pela vida e que depois vão transmitir aos seus. Tenho uma amiga que, quando vê uma atitude incorreta numa pessoa já madura diz: " não entendo como algumas pessoas não aprendem nada com a idade; tinham obrigação de ter outro tipo de comportamento" Tem toda a razão, pois vemos adultos sem a menor consciência do seu papel como pessoas mais velhas, mais experiêntes, pessoas em quem os mais novos teem os olhos postos.Temos que semear, plantar e depois cuidar das plantas e das flores com carinho e cuidado; elas serão aquilo que fizermos com elas desde bem pequenininhas. Um beijinho e uma bela semama para todos.
ResponderExcluirEmília
Sabe, Emília, quando comecei a ler este livro da Christiane Singer fiquei logo fascinada com este relato (aliás, tenho ficado encantada com tudo o que dela tenho lido). Adorei estes "exames" em que as pessoas demonstram efectivamente a sua aprendizagem ao longo da vida. Concordo consigo relativamente às provas a que somos submetidos diariamente e à dificuldade crescente de cada uma. No entanto, ainda são muitos os que avançam cronologicamente, mas não sentem a sua cada vez maior responsabilidade perante a criação. Talvez a existência de exames deste tipo consciencializasse melhor, cada um, para a responsabilidade acrescida que cada idade traz, para a abertura dos olhos e do coração a tudo o que nos rodeia. Como diz, "vemos adultos sem a menor consciência do seu papel como pessoas mais velhas". Esses não deviam ter "passado de idade" :)
ResponderExcluirBeijo grande e uma bonita semana para si também
Teresa
Fiquei aqui a pensar que haverá quem ache "que bom ficar com a mesma idade...". E aqui reside o grande problema da sociedade ocidental: a desvalorização da riqueza que cada ano nos proporciona. O endeusamento da juventude. Parece que a maior das amabilidades que se pode dizer a uma pessoa é focar o seu "ar jovem" ou "espírito jovem". E é aqui que vejo a grande importância destes "exames": eles valorizam, de facto, a aprendizagem que a vida nos dá.
ResponderExcluir...é bom estarmos receptivos às provas que a vida nos oferece de acordo com o avançar dos anos.
ResponderExcluirDesejo profundamente poder chegar à velhice, passando conscientemente por todas essas provas... adquirindo com cada uma delas uma maior e mais profunda consciência da importância e do sentido de viver.
Obrigada pelo post... é de uma beleza incomensurável.
Sempre,
Isabel
Sabe, Teresa, a minha mãe tem 80 anos; parece que tem muito menos; ela é vaidosa, se arranja; tem um espírito jovem; imagine que aprendeu a nadar sozinha aos 60; todos os dias nada um pouco, ou então anda na passadeira eletrica; fica feliz quando ajuda os vizinhos necessitados; compra mantimentos e leva lá, feliz da vida; ela diz sempre: " não sou velha, tenho sim muita idade; é uma pessoa aberta ao mundo, sem preconceitos, apesar de ter a 2ª classe. Sabe, adoraria chegar a essa idade com a juventude de espírito que ela tem.Imagine, os netos adoram a avó, porque ela os compreende e não vê mal nenhum nas atitudes que eles teem tão diferentes das que ela tinha na idade deles. Ela foi aprendendo com a idade; passou com distinção nos provas todas a que a vida a submeteu. Tenho muito orgulho dos meus pais nesse aspecto; o meu pai também é assim, apesar dos 82. Um beijinho e obrigada pelo post. Amanhã lá estarei para um novo dia..para um novo exame.
ResponderExcluirEmília
Concordo com a Emília&Hermínia: podemos avançar na idade e ganhar responsabilidade e conhecimento sem perder o espírito jovem.
ResponderExcluirAs pessoas mais velhas e mais sábias que conheci eram tão jovens de espírito e tinham uma mente tão aberta que podia falar melhor com eles como adolescente que com pessoas da mesma idade ou pouco mais velhas.
Acho que a coisa mais importante que temos que aprender é a tolerância, a compreensão, o "ver os dois lados" de tudo, e isso é que nos faz ser sempre curiosos e atentos como uma criança.
Ou, pelo menos, assim o espero - posso ficar velha e caquética (apesar que duvido da última parte com a tendência para engordar que tenho...), mas que a minha mente nunca deixe de perguntar "porquê?" nem de sonhar!
Emília e Sónia
ResponderExcluirAcho que não me expressei bem. O que quis dizer quando me referi ao "espírito jovem" enquanto sinónimo de leveza, abertura ao mundo, curiosidade, entusiasmo, é que este "espírito" não se limita necessariamente a uma única fase da vida - a juventude. Daí a elogiar uma pessoa adulta remetendo para a juventude estas características, creio ser extremamente redutor por um lado, e hiper valorizador por outro, de uma fase da vida que não é nem mais, nem menos rica do que as outras. Como diz a C. Singer
"Todos nós somos parceiros de viagem. Essa viagem é a vida (...)
Uma surpresa está reservada ao viajante que avance com o coração e os olhos bem abertos - sem pressa e, na medida do possível, sem remorso. Depois de ter sido despojado, ao longo do caminho, dos bens que anteriormente possuia vê-se, de repente, e para seu grande espanto, senhor de outros bens, dos até então desconhecia a existência e o valor. Aprende que - e a sua gratidão nessa altura não tem limites - nada lhe é tirado sem que lhe seja dado em troca algo de igual importância."
Assim a nossa vida é uma permanente transformação e o nosso espírito de entusiasmo e leveza não se deverá limitar à fase da vida tão glorificada pela sociedade ocidental em que desde os critérios de beleza física aos da mente são ditados pela "juventude". Porque é que só os jovens teriam o direito de sonhar, Sónia? Longe de mim ter esse pensamento porque é justamente essa capacidade de sonhar que mostra o quanto estamos vivos (e não necessariamente permanecendo, estagnando, na juventude). Se há pessoa que para mim simboliza esta capacidade é justamente o Manuel de Oliveira. E já me estou a alongar demais (eu que até nem sou de muitas falas :)) Adorei esta conversa e acreditar que vamos envelhecer juntas em entusiasmo, curiosidade, aprendizagem e partilha de alegrias, amigas. Um grande abraço
Teresa
Isabel
ResponderExcluirImaginei que também te fosses rever nestas palavras da "nossa" Christiane Singer. Que possamos passar conscientemente todas estas provas que a vida nos oferece. Bjs
Oi Teresa, eu entendi o que quis dizer, por isso falei na minha mãe; esse espírito jovem não é só na juventude; em qualquer idade se tem o direito de sonhar e de querer viver. Não aprovo as ações de muitas pessoas para esconderem a idade; fazem tudo para que não se lhe notem os anos; isso é errado; temos que assumir a idade que temos, não termos problemas em sermos " senior" O que nos deve preocupar é em viver a nossa fase com entusiasmo , convencendo-nos de que ainda temos muito para dar e, como diz a minha mãe " só temos muita idade, o resto continua. É muito bom esta troca de ideias. Um beijinho e adorei o " papo "
ResponderExcluirEmília
PS Vou começar na próxima Quarta o meu voluntariado.