sábado, 30 de junho de 2012

Enfrentar o desafio do vazio


“Penso que ensinar é antes de tudo um ato de fé.

Fé nos sonhos.

Fé na esperança.

Fé na imensa capacidade

De imaginar e construir um mundo novo.”

Aluísio Cavalcante Jr


Abrão Slavutzky fala-nos do sentimento de vazio que parece caracterizar o século que vivemos: Uma sensação de desamparo perante a desconstrução daquilo que até há bem pouco tempo nos parecia solidamente erguido; uma descrença no novo rosto do mundo que nos rodeia; um vazio cujo preenchimento parece ser obsessivamente procurado. Uma procura muitas vezes sem norte. Impressionam, de facto, as dificuldades que se apresentam aos mais jovens na busca de um espaço que os inscreva e permita escrever as letras do entusiasmo. Mas também sabemos que este é o tempo de todos os possíveis, o tempo da aprendizagem da “poesia das incertezas”. É do vazio que tudo se materializa e este é o tempo de sonhar. Sonhar com novas forças alicerçadas na família, na amizade, no humor, na arte, nos mestres que nos guiam… Mestres como AluísioCavalcante Jr que nos ajudam a ver o sentido e enfrentar o desafio do vazio.  

domingo, 24 de junho de 2012

Cinco necessidades relacionais



Marc Chagall

“O maior medo que levamos dentro de nós é o medo de sermos rejeitados e o maior sonho o de sermos compreendidos”
Alberto Brito

“O que eu quero na minha vida é compaixão, um fluxo entre mim mesmo e os outros com base numa entrega mútua, do fundo do coração.”
Marshall Rosenberg

“Cada um de nós… qualquer que seja a sua posição social, as suas opções de vida, as suas ligações, os seus valores/crenças ou as suas fidelidades, acaba por descobrir, um dia… que é um deficiente relacional, um inadaptado na partilha íntima, um deficiente da comunicação próxima, íntima, imediata.”
Jacques Salomé


Segundo Jacques Salomé são cinco as nossas grandes necessidades relacionais:

- Necessidade de “se dizer” com as suas próprias palavras.
- Necessidade de ser compreendido, numa “mesma língua”.
- Necessidade de ser reconhecido, tal como sou e não como os outros gostariam que fosse.
- Necessidade de ser valorizado, de ter um lugar na família, na empresa, na sociedade…
- Necessidade de sonhar que amanhã será melhor do que hoje e que depois de amanhã será melhor do que amanhã.

Para que a linguagem da violência não impere na nossa sociedade há que conhecer, compreender estas necessidades. O mundo em que vivemos é aquilo que fazemos dele e cada um de nós pode fazer a diferença no fluxo que corre para a casa do coração.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

CRUZAMO-NOS, MAS NÃO NOS ENCONTRAMOS (II)


Referimos, no post anterior, dois dos grandes obstáculos que se colocam ao encontro connosco, com os outros e com o mundo que nos rodeia: Mescla entre observação, julgamentos, emoções, interpretações… Quando julgamos, dividimo-nos, separamo-nos do nosso ser mais profundo e do ser mais profundo do outro. Congelamos a realidade e fechamo-la num único dos seus aspectos. Travamos o curso do rio que nos leva ao campo do encontro. 
 Gauguin

Thomas d`Ansembourg enuncia, ainda, os seguintes obstáculos:

3º) Agimos em função de critérios exteriores: o hábito, a tradição, o dever imposto ou suposto (“Acho que tenho que…”), o medo do olhar do outro – pais, conjugue, filhos, colegas… - ou essa parte de nós próprios que não conhecemos bem, que não nos é familiar e cujo juízo ou culpabilidade receamos.
Habituámo-nos “a acreditar que somos mais ou menos sempre e mais ou menos totalmente responsáveis pelo bem-estar do outro, assumindo uma impressão confusa e quase constante da nossa culpabilidade em relação ao outro, bem mais do que uma percepção esclarecida da responsabilidade de cada um. Ao mesmo tempo, habituamo-nos a acreditar que o outro é mais ou menos sempre e mais ou menos totalmente responsável pelo nosso bem-estar, assumindo uma impressão confusa e quase constante da sua culpabilidade ou dívida em relação a nós”, esperando que o outro cuide das nossas necessidades sem que as tenhamos identificado ou dirigindo-lhe pedidos como se fossem exigências, sem explicarmos qual é a nossa necessidade. Então, se o outro não reagir como desejamos, criticamos, julgamos…
Tomar consciência das nossas necessidades ajuda-nos a perceber que estas existem independentemente da situação ou pessoa com quem possamos estar. As pessoas ou situações só nos dão a oportunidade de as satisfazer, pois as necessidades são preexistentes a qualquer situação.
Exprimir a nossa necessidade diferenciando-a das nossas expectativas em relação ao outro, abre-nos todo um potencial de soluções entre as quais pode existir a sua intervenção, mas não só. Por outro lado, dá-lhe um espaço de liberdade, liberdade que possibilita o verdadeiro encontro.

4º) Incompreensão das nossas necessidades.
Se não compreendermos as nossas necessidades acabaremos por lheS renunciar submetendo-nos às soluções dos outros para lhes agradar (“ser boa pessoa”) ou por impor as nossas soluções, ou ainda por ficar à espera que os outros nos “adivinhem”.
É incrível como, por estranho que pareça, as nossas necessidades precisam mais de reconhecimento do que satisfação.
É extraordinariamente apaziguador tomar consciência do nosso mundo interior, sem forçar uma parte, nem recalcar outra: identificar e nomear necessidades cuja satisfação, num determinado momento, nos pareça conflituante e, portanto, não exista uma solução imediata. Ao fazê-lo redefinem-se prioridades e abrem-se caminhos para novas soluções.
É a consciência da necessidade que nos permite uma escolha viva que envolve a nossa totalidade no encontro com o outro.

 Fonte:  Seja verdadeiro, Thomas d`Ansembourg

sábado, 16 de junho de 2012

CRUZAMO-NOS, MAS NÃO NOS ENCONTRAMOS (I)


Observar e sentir sem julgar, nem interpretar

 Camille Pissarro

Concordamos, em geral, com o facto de grande parte da nossa riqueza residir nas relações profundas e duradouras que criamos connosco mesmos, com os outros e com tudo o que nos rodeia, mas sabemos, também, o quão difícil é concretizá-lo. Os grandes obstáculos, segundo Thomas d`Ansembourg, que o impedem são:

1º) Raramente, estamos em contacto com a realidade tal como ela é.

Estamos em contacto com a realidade tal como acreditamos que ela seja, como a vemos, como a interpretamos e não como ela é objetivamente.
Segundo Krishnamurti, saber distinguir a observação de um facto da sua interpretação, é um dos estados mais avançados da inteligência humana. É, sem dúvida, uma das coisas mais difíceis: Diferenciar o facto tal como se apresenta, da emoção que provoca em nós. A nossa interpretação dos factos adquire a cor dos medos, das esperanças e das projeções que vivem em nós – construímos cenários mais ou menos fictícios sobre a realidade.
A consciência de que misturamos os factos com as emoções que despoletam em nós, pode iniciar o caminho que nos levará ao verdadeiro ENCONTRO com o outro. O primeiro passo será, portanto, o da observação mais neutra possível. O segundo passo, o de expressarmos a nossa observação encetando um diálogo de maneira a respeitar a realidade e o ponto de vista do outro. Ao distinguirmos os factos das emoções permitimo-nos, em seguida, comunicar a emoção que a observação fez surgir em nós, sem julgar nem agredir.

2º) Baseamos muitas vezes as nossas reações nas nossas impressões, crenças e preconceitos, em vez de as basearmos no que sentimos verdadeiramente.

Não nos escutamos a nós próprios do modo mais adequado. Se perguntarmos a uma pessoa “Como se sente?” em relação a uma situação preocupante é natural que ela responda “Sinto que é preciso fazer isto ou aquilo… Sinto que está tudo perdido…”
O nosso velho hábito de pensar em vez de sentir a vir ao de cima: Respondemos, muitas vezes, através de pensamentos, conceitos, comentários e não através de um sentimento quando a pergunta se situa no âmbito dos sentimentos. Basta dizer “Sinto que…” para nos convencermos que estamos a expressar um sentimento. Há, portanto, que diferenciar emoção de pensamento, pois é esta diferenciação que nos permitirá situar em relação a uma situação ou pessoa sem julga-la, nem criticá-la e sem descarregarmos para cima dela a responsabilidade do que estamos a viver.
Assim, há que saber identificar no vocabulário dos sentimentos, aqueles que contêm uma interpretação ou um juízo acerca do que os outros dizem, fazem ou são. No fundo, as palavras que sugerem erro por parte de alguém, ou que atribuam ao outro a responsabilidade do que sentimos pode alertar-nos para o facto de estarmos a misturar sentimentos com interpretações. Para terminar, por hoje, deixamos-vos três exemplos de sentimentos ou emoções que contêm julgamentos escondidos:

INTERPRETAÇÂO
Possíveis EMOÇÕES
Insultada
Furiosa, emocionada, triste
Rejeitada
Magoada, assustada, zangada
Desvalorizada
Zangada, triste, desapontada


Fonte:  Seja verdadeiro, Thomas d`Ansembourg

Nota: Este post vem na sequência do da Comunicação NãoViolenta ou Autêntica, temática a que pretendo dedicar-me neste período.
Teresa

sábado, 2 de junho de 2012

Reconhecimento profissional

imagem retirada da internet
Reconhecimento: Uma necessidade intemporal e quase visceral. Reconhecer alguém significa identificar (quando nasce um bebé, ele é reconhecido pelos seus pais na maternidade e é neste reconhecimento que vai inserir-se na sociedade). 
Segundo Alain Botton uma vez satisfeitas as nossas necessidades básicas, a nossa maior necessidade é a do reconhecimento, de sentirmos que somos importantes para os outros, que "contamos" para eles.
A nível profissional o reconhecimento não é apenas algo que nos faz bem pontualmente, mas que alicerça a construção da nossa estima social ao permitir sentir que, de facto, pertencemos a um grupo.
Enquanto crianças os nossos pais felicitavam-nos pelo sucesso escolar e recriminavam-nos pelo insucesso. De certa forma, isso levou-nos a ter tendência para confundir o resultado dos nossos esforços com o nosso próprio valor no quanto ele representava para os nossos pais, confusão que vem a refletir-se noutros níveis, nomeadamente no profissional. 
Idealmente, a satisfação interior deveria ser sentida plenamente aquando da realização de um trabalho que sabemos bem feito e que foi gratificante mas, por vezes, basta uma crítica exterior para minar a nossa satisfação. Uma grande consciencialização e trabalho interior deverão ser feitos para não dependermos do olhar dos outros, mas dependência é uma coisa e uma acrescida satisfação natural quando nos demonstram apreço (quando nos sentimos re-conhecidos), outra bem diferente. Principalmente hoje em dia, em que a nossa vida profissional se tornou cada vez mais virtual e as funções que exercemos cada vez mais parcelares, divididas (não vemos o resultado de algo que fizemos do princípio ao fim). Mais do que nunca os meios de que dispomos para nos estimarmos parecem escapar-nos: Perdemo-nos em tarefas abstratas e parcializadas. Surge, então, o reconhecimento que auxilia a valorizar a nossa singularidade, ajuda a dar corpo e sentido a actividades cada vez mais desmaterializadas e faz sentir que efectivamente pertencemos a uma comunidade:  um verdadeiro balão de oxigénio que nos encoraja e dá mais sabor à vida.