Sempre me encantaram os Contos Infantis. Tive a sorte de ter uma infância recheada de histórias, contadas por várias pessoas, e um universo mágico onde podia dar asas à minha imaginação. Mais tarde, já adulta e com filhos, procurei transmitir-lhes a mesma magia dos contos que tinha ouvido e que permaneciam nas minhas memórias. Confesso que muitas vezes inventei histórias onde eles eram os protagonistas. Sempre senti que a cumplicidade entre quem conta e quem ouve era a verdadeira magia e que trazer essa magia para o espaço do quotidiano, o verdadeiro segredo. Aqui fica uma história que escrevi para o meu filho Francisco. Espero que gostem.
UM PATO NA PISCINA
Era uma vez uma casa no meio da serra. Chamava-se Casa da Lua. Era cor-de-rosa, tinha um jardim grande e bonito e uma piscina muito azulinha. Na casa moravam a avó Lena e o avô Tino que estavam sempre a convidar os filhos, os netos e os amigos, pois gostavam de ter a casa sempre cheia de alegria.
Um dia, a avó acordou muito cedinho e quando abriu as cortinas, para que o sol sonolento de Outono entrasse, ficou de boca aberta. Sabem o que ela viu? Um pato na piscina. Era um pato gordo, todo branquinho, com umas asas capazes de grandes acrobacias no ar. A avó nem queria acreditar! Esfregou os olhos e pensou: - Se calhar ainda não acordei e estou a sonhar! Mas não. Estava bem acordada, pois o pato continuava na piscina azulinha.
E agora o que é que eu faço? – Perguntou a avó.
Resolveu sair para falar com ele e saber se estava perdido e como o podia ajudar. Só que a avó não sabia falar a língua dos patos, nem o pato a língua da avó. Conclusão: não se entenderam. Mesmo assim, a avó foi buscar comidinha e aguinha fresquinha sempre a pensar o que havia de fazer para entender e ajudar o pato. De repente, teve uma ideia brilhante.
Toda a gente sabe que as crianças sabem falar todas as línguas porque começam por falar com o coração e só depois com as palavras. Então, a avó pegou no telefone, ligou para a mãe do Francisco e explicou-lhe o que se passava.
O Francisco estava na escola, mas como era um assunto urgente a mãe foi logo buscá-lo e seguiram para a Casa da Lua. Quando lá chegaram o Francisco sentou-se ao pé da piscina e perguntou ao pato:
- Ó pato, o que é que estás aqui a fazer?
- Perdi-me – respondeu ele muito triste. Ia com os meus amigos para uma terra mais quentinha, porque o Inverno está quase a chegar e nós patos somos muito friorentos, mas como também sou um pato muito curioso, vi esta piscina muito azulinha e não resisti a dar um mergulho, porque já há muitos dias que voávamos e estava com saudades de uma boa banhoca.
- E agora? – Perguntou o Francisco. O que podemos fazer para chamar os teus amigos?
- Olha, eu já estou rouco de tanto grasnar, mas se tu me ajudares, grasnamos os dois e talvez eles ouçam o nosso pedido e voltem para me vir buscar.
- Está bem – disse o Francisco.
Começaram os dois a grasnar o mais alto que conseguiam: quá, quá, quá, quá,quá, quá….mas não havia sinal dos outros patos e eles já estavam muito cansados. Foi nessa altura que o Francisco teve uma ideia.
- Olha pato, e se eu convidasse as minhas tias e os meus primos e os meus amigos todos e lhes ensinasse a grasnar? Seria um grasnar tão forte que de certeza que os teus amigos iam ouvir.
- Que rica ideia amiguinho – disse o pato com um ar mais animado.
O Francisco pediu à avó e esta foi logo telefonar para a família que passado um bocado começou a chegar trazendo os amigos e os amigos dos amigos. Era uma multidão que encheu o jardim todo.
Então, quando já estavam todos, o Francisco ensinou-os a grasnar, para que, em língua de pato, gritassem o sítio onde estavam e o pedido para que viessem buscar o amigo.
Foi um som intenso que se ouviu pela serra toda. Quá, quá, quá, quá, quá….e, de repente, passado um bocadinho, vindos de todo o lado, começaram a chegar patos iguais ao pato da piscina, que não cabia em si de contente.
O pato chegou ao pé do Francisco e enrolou-o nas suas asas brancas como neve, num abraço muito apertadinho, grasnando um obrigado muito sentido. Depois, com o bico muito amarelo tirou uma pena do peito, mesmo junto ao coração, e ofereceu-lha dizendo:
- Serás sempre o meu querido amigo e, todos os anos, quando passar por aqui virei visitar-te. Esta pena é para que não te esqueças de mim. Agora tenho de ir. Adeus.
O céu encheu-se de uma brancura alada com todos os patos a levantarem voo ao mesmo tempo. No jardim só se viam mãos abertas e sons que diziam quá, quá, quá, quá, quá….o que na língua de pato quer dizer:
- Adeus amigos, estaremos à vossa espera na Primavera.
Alexandra Pelágio