A situação demográfica actual coloca grandes desafios à Europa e Portugal: A Europa é a região mais envelhecida do mundo e Portugal um dos países mais envelhecidos da Europa. Segundo o Índice de Envelhecimento das Nações Unidas (representa o nº de pessoas com mais de 60 anos por cada 100 pessoas entre os 0-14 anos) prevê-se que em 2050 as pessoas com mais de 60 anos sejam o dobro das crianças ou jovens entre os 0-14 anos.
E no entanto… Vivemos numa época que privilegia o “novo”, a energia e vitalidade da juventude acima de tudo. Uma época em que interiorizamos, desde muito cedo, estereótipos negativos associados ao envelhecimento. O preconceito contra as pessoas idosas é bem ilustrado na polémica instalada antes do lançamento do filme UP. Os investidores questionavam seriamente o êxito do filme e os produtos de marketing a ele associados, tendo havido mesmo uma corrida à venda das acções da Disney neste período. Os fabricantes de brinquedos não acreditavam que as crianças estivessem interessadas em brincar com um idoso de 78 anos…
Quando o filme foi lançado todos os receios se revelaram infundados. O êxito de bilheteira do UP é, portanto, um bom indicador de que as nossas sociedades estão abertas à mudança.
O Ano Europeu do Envelhecimento Activo representa um marco na aposta em políticas que promovam um envelhecimento mais saudável e produtivo. No entanto, este envelhecimento não deverá surgir como uma imposição, mas como uma opção, ou seja, as pessoas idosas só deverão desempenhar determinados papéis se assim o desejarem.
O esforço da U. E. é, sem dúvida, louvável, mas a grande mudança ideológica que se nos impõe é muito mais abrangente e passa por uma estratégia activa em termos educacionais, pela promoção de acções intergeracionais, pela consciencialização da nossa responsabilidade no combate a certas tendências enraizadas e na promoção de uma sociedade mais aberta e inclusiva.
Um exemplo na integração de pessoas idosas é o Japão (e reparem uma sociedade altamente industrializada e tecnologicamente avançada): Em 1989 foi criado o Gold Plan que visava desenvolver serviços e programas que garantissem a segurança e dignidade dos idosos. Além de apostar no desenvolvimento de respostas ao nível social e de saúde inclui também investimento elevado na investigação e na pesquisa da ciência do envelhecimento. Na agenda política dos programas de envelhecimento japoneses o objectivo que surge como fulcral é o da promoção do bem-estar e realização das pessoas idosas - enriquecer o ikigai, ou seja, o sentido e propósito de vida.
Talvez devamos ter estes programas como referência porque a nossa grande mudança deverá ter como alicerce a valorização dos mais velhos nas suas necessidades e aspirações.
Em vez de encararmos o envelhecimento como um problema deveremos perspectivar todos os aspectos positivos que se anunciam, entre eles a oportunidade única e imensa de vivenciarmos a partilha de experiências entre as diferentes gerações que se vão encontrar pela primeira vez na História.
Fonte: Discriminação da Terceira Idade, Sibila Marques