“Tranquilizai-vos: Não sou um desses profetas do apocalipse que, regularmente, anunciam o fim do mundo. Não vos quero falar do fim do mundo, mas do fim de um mundo, o nosso. Porque o que vivemos neste momento é, sem dúvida, histórico. Só temos um pouco de consciência porque as civilizações terminais continuam a funcionar, mesmo que seja o vazio a dar a ilusão de solidez antes do colapso. Aconteceu no passado com o império romano ou num passado mais recente com a URSS.(…)
Reparem no sucesso do manifesto de Stéphane Hessel “Indignai-vos!”.
É um sinal, entre outros, que nos mostra estarmos na véspera de uma explosão moral.
O compromisso de alcançar uma sociedade mais justa e respeitadora dos homens e da Terra... Mas lá chegar não será simples, pois nem tudo será de deitar fora da antiga. Ela trouxe-nos uma liberdade individual jamais alcançada na história. Tornámo-nos senhores de nós próprios e nada nos poderá fazer renunciar a esta conquista. O problema é que esta liberdade se articula com o dinheiro como padrão universal das trocas. Como fazer para que o dinheiro deixe de dominar a sociedade sem perder a liberdade? A solução não virá do centro, mas das periferias dos nossos pequenos mundos de amor, de humanidade e de gentileza que não cessam de crescer. Um operador do mercado financeiro, mesmo que ganhe milhões, não é nada comparado a um educador ou a uma enfermeira. Dizê-lo, é já dar um grande passo.”
Jean-Claude Kaufmann, Notre civilisation est à bout de souffle
Concordo plenamente que este tipo de sociedade em que vivemos tem que ter um fim. Hoje comemora-se o 25 de Abril, dia da liberdade, mas será que somos livres deixando que o dinheiro comande as nossas vidas? Há uns dois anos publiquei no Começar de Novo um texto sobre a normose e, vou tomar a liberdade de o transvrever aqui, pois reflete bem o estado em que vive a nossa sociedade e a urgência em mudarmos as nossas mentalidades. Costumo dizer que as crises teem sempre o seu lado bom; espero bem que esta sirva para fazer-nos entender que a normose que está instalada tem forçosamente de terminar e eu tnho esperança de que a crise faça o ser humano andar com os pés mais assentes no chão. Eis então o texto.
ResponderExcluir"A humanidade esteve diante das mais diversas pestes e doenças, mas creio que nenhuma foi tão sutil quanto a normose. Este foi o termo criado por Jean Yves Leloup para definir, não uma nova moléstia física, mas um tipo de comportamento moderno intensamente destrutivo e hostil.
Normose seria a doença que faz com que o indivíduo aceite comportamentos nocivos ou aja por sobre um plano ilusório de uma maneira normal. O sujeito se acostuma tanto com determinada situação que nem pensa em questioná-la. Ela passa a fazer parte do quotidiano, mesmo trazendo prejuízos significativos.
Normose é assistir a escândalos políticos como corrupção e desvios de recursos de uma maneira normal. Embora reivindicações por mudanças sejam constantes, ficamos só no discurso. Ao invés de curar o mal pela raiz, somos tentados a simplesmente desviar do problema. Passiva, a sociedade aguarda providências das "autoridades" as quais, quem sabe, nunca chegarão.
A falta de ética dos ambiciosos e o comodismo generalizado inibe credibilidade e bom senso, restringindo a iniciativa e o trabalho criador necessário a uma sociedade próspera e equilibrada. E isto não acontece somente no meio político-social.
A normose é um mal que avassala o mundo inteiro, penetrando também em nossos lares, onde tanto somos influenciados pelas chamadas "propagandas enganosas" da mídia, como tornamo-nos vítimas de maus hábitos e modismos que denigrem cultura e valores sociais.
Num mundo repleto de superficialidades, tornou-se comum assimilar referências vazias e sem sentido. Obsessão por consumo e manutenção de "status" são algumas condutas subtilmente interiorizadas, mesmo sem significado real para nosso próprio crescimento. Adquirimos padrões duvidosos apenas porque são considerados normais.
A normose também está na sexualidade. A revolução cultural, mesmo rompendo com antigos e rígidos padrões de relacionamento, acabou por incentivar situações fúteis e passageiras. Tentando resgatar liberdade e sensualidade, muita gente acabou por trocar intimidade e espontaneidade por indiferença e promiscuidade. Substituímos inconscientemente nossos próprios valores, aderindo às transformações de uma maneira inerte - normal.
Bem, sei que não é fácil exercitar autoconsciência frente a tantos estímulos. Mas, com sabedoria e vontade de crescer poderemos banir a normose, caminhando equilibradamente rumo a um futuro próspero, onde o progresso seja não só o resultado de transformações urgentes e transitórias, mas, sobretudo baseado em valores sólidos e conscientes.»
Espero que tenham gostado do texto, pois acho que responde bem ao vosso; como é que uma sociedade destas pode sobreviver por muito mais tempo? Um beijinho e desculpem a ousadia.
Emília
Extraído de: A Peste do Século: Normose - Por Moacyr Castellani (Psicologia Integral)»
A verdade nua e crua.
ResponderExcluirÉtica, solidariedade e responsabilidade pelas nossas acções, estes conceitos vêm a partir do amor, por nós e pelos outros, é isto que nós temos que produzir e reproduzir.
E porque todos os dias, são dias da Terra, deixo aqui um poema/música inspirador do carinho pela "nossa" Terra:
http://www.youtube.com/watch?v=9YgDmt1FoT0
Ah! tb gostei do texto acima.
ResponderExcluirA "hipnose" da nossa sociedade tão "evoluída".
ACORDEM!!! Não existem aspectos positivos neste caminho.
Bem, este "grito" é para ser gritado para fora, não se encaixa aqui, foi um desabafo.
Uma boa semana também!
Emília
ResponderExcluirFantástico este texto. Muito obrigada por mais este lindo presente.
É realmente a normose uma das doenças de que padecemos. Consigamos exercitar a autoconsciência com sabedoria e vontade de crescer.
Abraço grato
Ana
ResponderExcluirSempre fui uma apaixonada por este poema, pelas palavras/música de Caetano. E como me soube bem ouvi-lo aqui de novo... Muito obrigada Ana (pelo grito também :) porque precisamos GRITAR). Bom fim de semana!