Como nos dizem Catarina Rivero e Helena Marujo no seu livro Positiva-mente, as boas soluções para uma vida bem vivida podem ser inesperadas e aparentemente insignificantes. Aquilo que nos salva é, por vezes, bem diferente daquilo que idealizamos. Na imprevisibilidade e simplicidade pode estar um novo sentido para a existência: Só temos que estar receptivos e saborear as boas consequências que o acaso nos pode trazer. É com a transcrição de um excerto do diário do tenente-coronel Mervin Willett Gonin, que esteve entre os primeiros soldados ingleses a chegar ao campo de morte nazi de Bergen-Belsen, que as autoras ilustram o quanto o inesperado pode ser melhor solução do que aquela que se idealiza.
"Não consigo fazer uma descrição adequada do Campo de Horror no qual os meus homens e eu próprio íamos passar o mês seguinte das nossas vidas (...). Havia cadáveres por toda a parte, alguns em pilhas imensas, por vezes sozinhos, outras em pares, nos sítios onde tinham caído.
Demorou algum tempo a habituarmo-nos a ver homens, mulheres e crianças em colapso ao passarmos por eles, e a conseguir impedir-nos de ir em sua ajuda. Tivemos desde cedo que ajustar-nos à ideia de que o indivíduo não contava. Sabíamos que morriam 500 por dia, e que 500 iriam continuar a morrer diariamente durante semanas, antes que algo que pudéssemos fazer tivesse o mais pequeno efeito (...).
Foi pouco depois de ter chegado a Cruz Vermelha britânica - ainda que possa não ter qualquer ligação - que recebemos uma larga quantidade de batons vermelhos. Isto não era de todo aquilo que nós, homens, queríamos, pois estávamos desesperados por milhares de outras coisas. Não sei quem pediu batons. Ah, como eu adorava descobrir quem o fez! Foi a acção de um génio, um maravilhoso e brilhante acto não adulterado. Acredito que nada fez mais por aquelas pessoas que o batom. As mulheres ficavam deitadas na cama sem lençóis nem roupa no corpo, mas com intensos lábios vermelhos; viam-se a deambular sem nada mais do que um cobertor sobre os ombros, mas com intensos lábios vermelhos. Vi uma mulher morta na mesa fria para cadáveres apertando na sua mão um batom.
Finalmente alguém tinha feito algo para os fazer sentir de novo pessoas, sentir que eram alguém, não mais apenas um número tatuado num braço. Finalmente conseguiam interessar-se pela sua aparência. Aqueles batons começaram a devolver-lhes, de novo, a sua Humanidade."
Nota: A referência a este "Manifesto", contextualizado no livro Positiva-mente, também se encontra no óptimo blogue Raça Ambígua.
Olá amigas.
ResponderExcluirSempre os vossos textos me encantam, sempre nos levam a uma grande reflexão, mas este, penso que é muito oportuno, porquê? Porque, quando pensamoe em ajudar alguém carenciado, procuramos dar sempre alimentos, pois na realidade não se pode passar sem comida.Não nos preocupamos sequer em dar, por exemplo, artigos de higiene pessoal. Tenho a certeza que, não só eu, mas outros que por aqui passem vão reflectir sobre essa atitude e vão mudá-la. E agora, lá vai um caso que já me serviu de lição, agora que estou numa loja social. A minha mãe que mora no Brasil tem uma vizinha de idade que ficou viúva há una anos; a partir daí a senhora começou a ter necessidade não só de companhia, mas também de bens de primeira necessidade. A minha mãe começou a acompanhar a vizinha, indo lá de vez em quando conversar um pouco e levar-lhe alimentos. Um dia reparou que a senhora estava com a pele muito seca( a minha mãe preocupa-se muito com isso, apesar dos 80) e perguntou-lhe se ela não tinha um creme para passar no corpo. A senhora respondeu que agora não podia comprar, pois não tinha dinheiro para essas coisas, mas que, quando vivia melhor sempre usara. A minha mãe foi a casa buscar um e ofereceu-lho, dizendo que usasse sempre, pois, quando acabasse, lhe daria outro.Escusado será dizer que a senhora agradeceu imenso e ficou felicissima pelo " mimo". Tenho visto na loja social como ficam felizes quando, para além dos alimentos e roupas que a assitente social manda dar, lhes oferecemos, por exemplo umas canequinhas coloridas que levei de casa, bolsas que as pessoas doam , brinquedos para as crianças que teem em casa. Pequenas coisas que não fazem falta a quem as doou para a loja, mas para aquelas pessoas são autênticos batons que vão dar um pouco de cor ao sorriso delas. Parabéns por mais este tema, super importante e um bom fim de semana. Muitos beijinhos
Emília
que bonita reflexão e tão importante... e que bons sempre os acréscimos da Emília... e de tanto sque aqui passam...
ResponderExcluiré tão bom vir aqui... que gostava de poder estar de vez em quando mais perto! Ao vivo!!!
Porque não pormover um encontro entre todos os que aqui vêem, para se poderem conhecer melhor e ao vivo?
Estou seriamente a pensar nisso.
Obrigada pela vossa companhia no caminho, pelas descobertas que tenho feito, pela vossa riqueza interior, pela vossa capacidade de dar e de amar, sem vergonhas nem medos.
Obrigada por mais este post.
É bom voltar a acreditar com mais força que há ainda muita gente que se interessa em tornar o mundo melhor, mostrando que começa por si mesma.
Abraço bem apertado e cheio de carinho para todos com uma amizade que me está a fazer muito bem.
Sempre,
Isabel
Vou, sem pedir licença ( que ousadia!!!) responder ao comentário da Isabel. Adoraria esse encontro! Portugal é muito pequeno e portanto estamos perto umas das outras; não será difícil esse encontro. Blogueiras, já conheci 3 , não em conjunto, mas uma de cada vez; moravamos perto e eu e a Hermínia resolvemos conhecê-las. Foi muito bom. Por mim e pela minha amiga esse encontro se fará. Vamos começar a tratar disso? Um beijinho e obrigada, Isabel. Que me desculpem as minhas amigas do Optimismo em Construção. Bom fim de semana para todas.
ResponderExcluirEmília
E ainda bem que não pediu licença, Emília! Vamos começar a preparar o nosso super encontro. Que tal nas férias da Páscoa? Não estão muito longe, nem perto de mais e as profs sempre têm um descansozito...
ResponderExcluirAdoramos a proposta da Isabel e mais este lindo exemplo de vida que nos deu e tão bem ilustra a importância das pequenas coisas que nos fazem sentir humanos. Um abraço e uma feliz semana!