“O estado supremo da beleza é a harmonia.
Trata-se da qualidade ética da beleza. Esta beleza ética permite ao homem
conservar a sua dignidade, a sua generosidade e grandeza da alma. (…) Quando saímos
e nos deparamos com uma linda árvore em flor, o universo surge-nos como na
manhã do mundo. Apenas a beleza é capaz de nos proporcionar este deslumbramento
da primeira vez."
François Cheng
“A
beleza salvará o mundo"
Dostoievski
Dostoievski
Para
perceber a beleza há que fazer todo um trabalho sobre nós próprios. A beleza
não vem de si como um dado, é necessário um estado de espírito para a apreender:
Esvaziar-se para a acolher. A verdadeira beleza é desinteressada, gratuita e,
sobretudo, alicerçada na bondade. Como nos diz José Tolentino Mendonça, citando Dostoievski, sem beleza a vida ser-nos-ia insuportável porque a beleza é a fonte de significado para a vida.
A vida sem significado. Um mundo sem vida. E para que haja vida é necessário que haja diferenciação entre
os seus elementos. É a diferenciação que, numa contínua evolução, leva à
singularidade de cada ser. Cada erva, cada flor, cada instante, cada um de nós,
é único e insubstituível. Cada um é único na medida em que todos os outros o
são também (se só eu fosse único e todos os outros iguais, eu não passaria de
algo bizarro para ser exposto na montra de um museu…). Assim, a unicidade de
cada um só se afirma, revela e adquire sentido perante outras unicidades,
graças às outras singularidades. No tempo, cada episódio, cada experiência
vivida, é igualmente marcada pela unicidade. É precisamente com a unicidade que
começa a beleza. O aparecimento da beleza é sempre um instante único: É o seu
modo de ser. Cada pôr de sol, cada noite de céu estrelado, cada olhar de
mãe, cada sorriso de criança, cada flor que desabrocha, nos permitem, a
cada instante, sentirmo-nos em sintonia com o mundo. A unicidade transforma
cada ser em presença, a qual não cessa de ir em direção à plenitude do seu fulgor
que é a própria definição de beleza. A beleza do mundo que nos remete para a
nossa unidade interior e permite, enfim, a nossa transcendência no seu
esplendor.
Fonte bibliográfica: François Cheng, Cinq méditations sur la beauté
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