As histórias ajudam a conhecer-nos melhor, possibilitam-nos uma orientação, permitem-nos dar uma ordem a acontecimentos da nossa vida, revelam-nos, enfim, a nós próprios e aos outros. Na opinião de Sacks, o homem mentalmente saudável é aquele que consegue contar a sua história. Sabe de onde vem, onde está (a sua identidade) e crê saber para onde vai (tem projectos). Como nos diz Margarida Pedroso de Lima no seu livro "Posso participar?" algumas das histórias que contamos são pessoais e outras são partilhadas, fazendo parte do espólio cultural de um determinado povo ou cultura. Por esse motivo é que muitas das histórias mais belas (lendas, contos, mitos) não pertencem a ninguém e estão envoltas em segredo. Milhares de histórias sobreviveram a guerras e derrocada de impérios. O poder das histórias é-nos revelado, por exemplo, pelo conto das mil e uma noites, em que as histórias além de encantarem, podem libertar da morte e curar.
Abrem-nos caminhos as histórias e hoje, deixamos-lhe como sugestão escrever uma história na qual será você o héroi e tudo será possível. Conceber através da escrita aquilo que mudaria na sua vida, se concretizasse os seus desejos, é dar o primeiro passo para os realizar.
Nota de 11/2/2011
Noutra linda coincidência da blogosfera (a Marta não sabia da nossa existência) depara-se-nos o post "Encantamentos mágicos" que nos fala da magia das histórias de encantar. E nós lembrámo-nos das palavras de Bruno Bettelheim sobre a importância dos contos de fadas. Segundo este autor não existe nada mais enriquecedor e satisfatório, quer para a criança, quer para o adulto, do que o popular conto de fadas. A mensagem que os contos de fadas trazem à criança por múltiplas formas: que a luta contra graves dificuldades na vida é inevitável, faz parte intrínseca da existência humana, mas que se o homem não se furtar a ela e com coragem e determinação enfrentar dificuldades, muitas vezes inesperadas e injustas, acabará por dominar os obstáculos e sair vitorioso. A criança precisa muito de sugestões, em forma simbólica, sobre como lidar com os obstáculos para chegar sem risco à maturidade.
Por muito pouco tempo que tenhamos, seria bom reservar um pouquinho só para manter (ou retomar) com alegria a tradição de contar histórias de encantar. Encantarmo-nos e encantar.
E este vídeo com uma linda música remete-me a um feliz passado; contém lindas histórias esta aquarela! Um long play de vinil que fazia as delícias do meu filho André de 34 anos e mais tarde as da minha filha; conservo até hoje essa aquarela...o vinil contiua pronto a contar mais histórias, em cima daquele aparelho em desuso mas guardado com muito carinho: um dia o André vai continuar a contar aos filhinhos dele a linda história começada há anos numa ciadezinha pequena do Brasil; cidade pequena...com um nome estranho, Guaratinguetá; dfícil de ser pronunciado, mas com um significado belíssimo; é linda a cidade onde nasceram os meus filhos, onde vivemos histórias lindas, onde outras aquarelas foram pintadas; foi chamada pelos indígenas de Reunião de Garças Brancas.
ResponderExcluirEmocionei-me ao ouvir esta aquarela...as lágrimas correram dos olhos do André quando há tempos recordou nesta aquarela a sua história de vida em Guaratinguetá...chorará um dia quando o vinil voltar ao seu lugar e mostrar ao Lucas e à Eduarda as lindas cores desta aquarela; velhinho...voltará o vinil ao seu armário onde é guardado com todo o cuidado; sei que estará sempre pronto para continuar, nas mãos dos meus netos, a linda história começada há anos...história que, se quiserem, continuará, pintada numa aquarela ou escrita num lindo caderno amigo que, espero, não será esquecido num canto qualquer.
E assim se revivem vidas, se recordam histórias: foi para mim um momento maravilhoso...um retorno ao passado...uma história que continua a ser contada.
Não tenho palavras para lhes agradecer este momento...não basta o beijo que lhes deixo... acrescento a ele a minha grande amizade.
Emília
E que felizes ficámos com essa sua volta a um passado tão cheio de cor. Nós é que agradecemos todo o carinho com que nos acolhe. Um fim de semana pleno das lindas cores que só a aquarela nos pode pintar. Abraço grande
ResponderExcluirQue bonito que foi ouvir e ver a Aquarela e ler os dois textos sobre as histórias e o grande desafio de as manter, de as contar e de as imaginar!
ResponderExcluirGostei tanto!...
... e tanto que me emocionam ainda as histórias de encantar... ou mesmo todas as histórias!
Muito, muito obrigada.
Foi um momento maravilhoso!
Beijinho reconhecido,
Isabel
Isabel
ResponderExcluirÉ realmente um desafio manter esta tradição. Acabei de ler uma entrevista do Colin Firth (o actor do filme "O Discurso do Rei" - um filme absolutamente a ver) em que nos diz que a cena em que o futuro rei conta histórias às duas filhas pequenas foi tirada da sua vida: ele manteve a tradição de contar histórias às crianças. E tudo começou no momento da sua carreira em que estava sempre longe. Percebeu que a melhor maneira de captar a atenção das crianças era mandar uma cassete gravada com uma história. Comenta ele que já o avô fazia o mesmo e ele lhe pedia até à exaustão histórias e mais histórias. Pedia a outras pessoas e muitas vezes estas diziam "Agora não!" ou "mais daqui a bocado". Inventar histórias implica uma grande disponibilidade. Mas depois, quando se sentavam acontecia o encantamento: O adulto inseria a criança na história e ela ficava instantaneamente pendurada na narrativa.
A falta de tempo para este ESTAR verdadeiramente tem levado a que esta tradição vá dando lugar à visualização de filmes e vídeos. Mas creio que nada se compara a uma história contada no afecto dos corações. Um desafio, portanto, retomar esta tradição. Um desafio e uma inspiração tal como se sente neste lindo conto que a Alexandra postou, não é?
Teresa