domingo, 20 de janeiro de 2013

ESCOLHAS

imagem tirada daqui


 Muitas das nossas escolhas não nos parecem verdadeiras escolhas, mas “deveres”, algo a que não podemos escapar. Esta perspectiva faz-nos sentir um maior peso nos deveres, obrigações, que se nos deparam (e não são poucos...). Porque se uma parte de nós age por dever, por sacrifício, porque “tem de ser” e se sente constrangida ou culpabilizada, essa parte devora toda a nossa energia e vitalidade acabando, mais cedo ou mais tarde, por se vingar, manifestando-se através da ira, revolta, zanga…

Mas é possível mudar a perspectiva e, consequentemente, mudar substancialmente a forma como vivemos os “deveres” do nosso quotidiano.

Sim, é possível fazer escolhas motivadas unicamente pelo nosso desejo de contribuir para a vida e não por culpa, medo, vergonha, dever ou obrigação. E isso muda radicalmente a qualidade dos nossos dias. Como nos diz Marshall Rosenberg “quando temos consciência do propósito enriquecedor para a vida que está por detrás de uma ação até o trabalho mais duro contém um elemento de prazer”.

Substituir “Tenho de fazer” por “Escolho fazer” é a sua proposta para a mudança. Ei-la:

1.     Escreva num papel todas as coisas que diz a si mesmo que tem de fazer, qualquer actividade que deteste, mas faz assim mesmo porque percebe que não tem escolha.

2.     Depois de completar a lista, reconheça claramente para si mesmo que está a fazer essas coisas porque escolheu fazê-las, não porque tem de fazê-las. Coloque a palavra “Escolho” à frente de cada item que listou.

3.     Complete a frase “Escolho… porque quero…”

A cada escolha que fizer, esteja consciente da necessidade que atende.

Ao explorar a frase “Escolho… porque quero…” podemos descobrir que há valores importantes por detrás das escolhas que fazemos. Quando temos consciência do propósito enriquecedor para a vida que está por trás da acção que fazemos, quando a energia que nos motiva é a de tornar a vida melhor para nós e para os outros, então até o trabalho mais aborrecido contém um elemento de prazer.

É natural que sintamos algumas dificuldades na realização deste exercício. É difícil, muitas vezes, identificar as necessidades que efetivamente estão por detrás de cada escolha. Mas elas estão lá e a cada uma correspondem valores importantes (dinheiro, aprovação, evitar punições, evitar a culpa, evitar a vergonha…). O que é mais importante para si? Um dos exemplos que Marshall Rosenberg dá, ao fazer este exercício, é o de um item da sua lista: Levar as crianças de carro à escola (que ele sentia como uma obrigação). Quando examinou o motivo por detrás daquela tarefa apreciou os benefícios que os filhos tinham em frequentar aquela escola mais longínqua do que a escola do bairro que não estava em harmonia com os seus valores educacionais. Esta consciencialização permitiu-lhe continuar a levar as crianças com uma energia bem diferente.

Substituir uma linguagem que nega a possibilidade de escolha, por uma em que tomamos consciência dos verdadeiros valores que estão por detrás de cada escolha, é substituir a renúncia à vida em nós mesmos, substituir uma mentalidade robô que nos separa da nossa própria existência, pela integração plena na vida que há em nós, nos outros e em tudo o que nos rodeia.

"Fazemos aquilo que queremos"



sábado, 12 de janeiro de 2013

Receber com empatia



“Ouvir somente com os ouvidos é uma coisa. Ouvir com o intelecto é outra. Mas ouvir com a alma não se limita a um único sentido – o ouvido ou a mente, por exemplo. Portanto, ele exige o esvaziamento de todos os sentidos. E, quando os sentidos estão vazios, então todo o ser escuta. Então ocorre uma compreensão direta do que está ali mesmo diante de você que não pode nunca ser ouvida com os ouvidos ou compreendida com a mente.”
 Chuang Tzu

A. Goldworthy (imagem tirada daqui)

Esvaziar-nos para recebermos o outro na sua plenitude. Esta presença inteira para o outro, a capacidade de dar atenção a alguém que sofre, é muito rara e difícil. Simone Weil dizia que é um milagre.
Quando alguém nos procura para desabafar, falar das suas aflições, a nossa tendência é, em geral, de dar conselhos ou encorajamento e explicar a nossa própria posição ou sentimento. Em vez de concentrarmos plenamente a nossa atenção na mensagem da outra pessoa, preocupamo-nos em encontrar um conselho que a anime, ou uma palavra de alento.
Como nos diz Marshall Rosenberg “acreditar que temos de “consertar” situações e fazer os outros sentirem-se melhor impede que estejamos presentes.”
Quando tentamos compreender intelectualmente o outro, quando escutamos as palavras de alguém tentando relacioná-las com as nossas teorias, estamos a olhar para as pessoas, mas não estamos com elas.
O alicerce da empatia é a presença. Presença é algo distinto de compreensão mental ou de solidariedade. E este é o aspecto fundamental: Embora possamos, ocasionalmente, escolher solidarizar-nos com os outros ao sentir o que sentem, há que ter consciência de que no momento em que estamos a oferecer a nossa solidariedade, não estamos a oferecer a nossa empatia. 
Eis alguns obstáculos à conexão em empatia:
- Aconselhar: “Acho que deverias…”; “porque é que não fizeste assim…”
- Educar: “Isso pode ser uma experiência muito positiva, se tu apenas…”
- Consolar: “Não foi culpa tua, fizeste o melhor que pudeste…”
- Contar uma história: “Isso lembra-me uma ocasião…”
- Explicar-se: “Eu teria telefonado, mas…”
“Não faça nada, só fique sentado” é um ditado budista que pode orientar-nos no aperfeiçoamento da qualidade de presença e escuta do outro: Esvaziar a nossa mente e escutar com a totalidade do nosso ser. 
Como nos diz Thich Nhat Hanh: “O presente, mais precioso, que podemos oferecer, àqueles que amamos, é a nossa energia de compreensão e amor. Aquilo que os outros mais precisam é da nossa compreensão, amor e olhar profundo – não como ideias, mas enquanto realidade viva.”